Arte
Maiakóvski
domingo, 21 de março de 2010
HIPOCRISIA
só manifesta aquilo que não sente!
e, assim, esconde a inveja... e, sorridente,
vive a urdir, à surdina, a vil intriga.
Que essa torpe paixão não te persiga,
nem o teu coração seja inclemente;
não quero que ninguém, perfidamente,
nenhuma frase sem valor te diga.
Lamento a ingratidão e a covardia
de quem nos mostra a estima que não tem
lá dentro d'alma rancorosa e fria!...
Nunca será amigo de ninguém
o enfeitado de amor e de alegria...
e todo alheio à prática do bem.
Fortunato Moreira Neto - Poeta maranhense (1897-1972)
domingo, 15 de março de 2009
ARIANE (Miguel Torga)
Tem mastros, velas e bandeira à proa,
E chegou num dia branco, frio,
A este rio Tejo de Lisboa.
Carregado de Sonho, fundeou
Dentro da claridade destas grades…
Cisne de todos, que se foi, voltou
Só para os olhos de quem tem saudades…
Foram duas fragatas ver quem era
Um tal milagre assim: era um navio
Que se balança ali à minha espera
Entre as gaivotas que se dão no rio.
Mas eu é que não pude ainda por meus passos
Sair desta prisão em corpo inteiro,
E levantar âncora, e cair nos braços
De Ariane, o veleiro.
Lisboa, Cadeia do Aljube, 1 de Janeiro de 1940
Escrita em tempos de dor
Toda dor dilacera; mas o que a torna intolerável é que quem a sente tem a impressão de estar separado do resto do mundo; partilhada, ela ao menos deixa de ser um exílio. Não é por deleite, exibicionismo, por provocação que muitas vezes os escritores relatam experiências terríveis e desoladoras: por intermédio das palavras, eles as universalizam e permitem que os leitores conheçam, em seus sofrimentos individuais, os consolos da fraternidade. Em minha opinião, essa é uma das funções essenciais da literatura, e o que a torna insubstituível: superar a solidão que é comum a todos nós e que, no entanto, faz com que nos tornemos estranhos uns aos outros. “(Simone de Beauvoir citada por Mirian Goldenberg em "Infiel" - Ed. Record)
SÓ (Ariane Sales)
Sou de ninguém
Atravesso um deserto
E chego ao mar
Mas não há porto
Não há navio
A me esperar.
Não tenho teto
Nem de papel
Pra aquecer a noite
Não tenho amor
E do que procuro
Só vejo o escuro
Em dias de dor.
HOJE ESTOU TRISTE (J. G. de Araújo Jorge)
a vida de repente se reduz
a um punhado de inúteis fantasias...
... Sou uma procissão só de homens nus...
Olho as mãos, minhas pobres mãos vazias
sem esperas, sem dádivas, sem luz,
que hão semear vagas melancolias
que ninguém vai colher, mas que compus...
Amor, estou cansado, e amargo, e só...
Estou triste mais triste e pobre do que Jó,
- por que tentar um gesto? E para quê?
Dê-me, por Deus, um trago de esperança...
Fale-me, como se fala a uma criança
do amor, do mar, das aves... de você!
sábado, 19 de julho de 2008
Poema
Aprende as letras:
É pouco, mas aprende-as!
Te ensinaram
A não transgredir autoridade:
Pai, Marido, Deus.
Te orientaram
A não questionar ordens e convenções
do mundo inventado e comandado pelos homens.
Tu, mulher,
Aprende a ver o mundo!
Aprende a ler o mundo
e a viver nele!
É certo que foste domesticada:
obediência, silêncio, resignação.
Em diferentes tempos e lugares
És menor que os homens...
É certo que esperam de ti:
harmonia, bons costumes, submissão
Mesmo em lugares (neste tempo)
Onde o discurso da igualdade é intenso!
Vê a dor e o sofrer
E o medo e a prisão
Nos olhos da mulher!
Aprende o prazer
No amor, no estudo, no viver...
Aprende a alegria
No trabalho, no lazer...
Educa o homem e a mulher,
Crianças no teu colo.
Investe na criação da autêntica humanidade!
Conquista a tua liberdade
De expressão, pensamento, criação.
Constrói a tua autonomia!
Aprende a contraler!
Aprende por tua conta o saber!
Vai além dos termos que te impuseram
E escreve a tua própria sorte!
Poema
Poema
TRANSMUTAÇÃO
Ciclo da vida:
Nascer
Desenvolver-se
Reproduzir-se
Morrer.
É isto a essência,
O que nos faz ser gente, bicho, planta?
O poeta tem razão:
O essencial é invisível aos olhos.
Nascer e morrer
são atos biológicos.
Reproduzir-se é processo
(instinto, desejo, conservação);
Desenvolver-se, também
(dinâmica, movimento, evolução).
Mudar-se e mudar a realidade:
Tudo cabe aqui.
Penso que somos sós...
Paradoxalmente, somos todos.
Há dias em que quero lagartear:
Comer-beber, transar, repousar.
Há tempos em que o corpo
pede isolamento:
urso em hibernação.
Ou pede sossego:
Tem carência de ruminar.
Penso que somos sós...
Essencialmente, somos todos.
Percebo a efemeridade da vida.
Teimo, então, pela continuidade.
Quero ter:
Do mar, o mistério;
Do céu, a amplitude;
Da terra, a firmeza.
A beleza frágil da borboleta;
A suavidade inquieta do beija-flor.
Quero plantar
Semente, palavra, ação:
Que fecunde, liberte, transforme.
Quero mudar-me continuamente.
quinta-feira, 3 de julho de 2008
Raul Seixas (1945-1989) - Cantor e compositor brasileiro
(Raul Seixas e Paulo Coelho)
Conserve seu medo
Mantenha ele aceso
Se você não teme
Se você não ama
Vai acabar cedo
Esteja atento
Ao rumo da História
Mantenha em segredo
Mas mantenha viva
Sua paranóia
Conserve seu medo
Mas sempre ficando
Sem medo de nada
Porque dessa vida
De qualquer maneira
Não se leva nada
E ande pra frente
Olhando pro lado
Se entregue a quem ama
Na rua ou na cama
Mas tenha cuidado
Conserve seu medo
Mas sempre ficando
Sem medo de nada
Porque dessa vida
De qualquer maneira
Não se leva nada
E ande pra frente
Olhando pro lado
Se entregue a quem ama
Na rua ou na cama
Mas tenha cuidado
Cuidado!
Ah! Ah! Muito!
terça-feira, 1 de julho de 2008
คriαηє ♥
(Heloísa a Pedro Abelardo)
Ariane Sales
Amado Pedro,
Muitos cantam a vida
Cantarei o amor
a ti
porque és único,
íntegro e belo:
o mais belo de todos.
Venerar-te,
constância de espírito:
cubro a cabeça
em Argentenil
somente por ti.
Mesmo tão longe,
perto te vejo
como se aqui estivesses.
E tenho saudades
do riso e das cálidas palavras.
E em sonho:
Mordo teus lábios
Beijo teus brancos dentes
Cubro de beijos teu corpo
E amo...
Solidão...
Desejo teu amor na hora do desejo
e choro...
Melancolia...
Ai! Quanto sofrimento
e dor na despedida
e agora!
Tesouro roubado:
Alegria, carícias...
teu corpo claro:
ombros, peito, pêlos...
E tuas mãos fortes e quentes!
Não quero esquecer:
À luz, tua memória;
À noite, um fantasma.
Não posso esquecer:
Nosso amor, seu fruto,
o enlace secreto,
a louca sangria...
Ah! Quanta insanidade
e horror perante os céus
e os homens!
Nada fizeram;
nada quiseram fazer:
a não ser consentir...
Perdi a esperança
nos céus
e nos homens.
Meu sacramento,
o amor por ti.
Em Paracleto,
zelo por ti.
(Perdoa-me não amá-Lo como tu.)
Minha adoração eterna.
Tua sempre,
Heloísa.
França, século XII.
quinta-feira, 12 de junho de 2008
คriαηє ♥ღ
AMOR QUE ACENDE ESTRELAS
Ariane Sales
Quero um amor que acende estrelas
quando a lua não aparece
na alma inquieta e sombria.
Quero a chuva de ternura
que o amor já faz surgir
no rebrilho dos teus olhos.
Quero a brisa de aromas
que recende o teu corpo
com gosto de bem querer.
Quero um amor que não fraqueja
quando ameaça o medo
perante o escurecer.
Quero um amor que traz de volta
quando a boca e o peito calam
o desejo de falar.
Quero antes...
o brilho de estrelas mortas
há distantes anos-luz...
que a dor de não amar!
Van Gogh - Noite estrelada(1889)
domingo, 25 de maio de 2008
Educação Digital
dessa Nova Realidade
Ariane Sales
É consenso entre os profissionais da educação que não se pode mais negar a influência das tecnologias de informação e comunicação (TICs) na educação escolar. Desde a orientação dada pelo órgão de instância maior responsável pela implementação de propostas na educação brasileira, o Ministério da Educação, até o simples fato de nossos alunos terem cada vez mais acesso a internet, essa realidade se constitui em fato.
Pois nem mesmo se pode ter essa atitude em relação à educação, constituindo-se a mesma em fator de transformação social, mas nunca em determinante, principalmente de modo isolado, como querem nos fazer pensar certos discursos, principalmente políticos.
Falar, porém, do uso das tecnologias na escola e o papel do educador diante dessa nova realidade não é algo simples, principalmente pelo grande isolamento da escola em relação às mudanças que ocorrem no mundo continuamente. Pois o modelo de escola pública que predomina em nossa cidade e em parte considerável do País, se assemelha com o da escola no século XIX, onde o trabalho do professor é pautado pela utilização do quadro e do livro didático, utilizando-se principalmente (e basicamente também) da aula expositiva. Grande parte de nossas escolas não
possui biblioteca, sala de vídeo, laboratório de informática etc., e estão assim, alheias às inovações tecnológicas e da informática.
E para além dessas questões materiais e que refletem um posicionamento político de quem dita os rumos da educação no país, estados e municípios, ainda se tem o agravante da falta de preparo dos profissionais para um trabalho com a instrumentação eletrônica.
“Como em tantas outras áreas de atuação humana impactadas pelas tecnologia de formação e comunicação, também na educação o desafio só será vencido quando essas tecnologias forem compreendidas e incorporadas pelas pessoas de modo inteligente e criativo. Aqui, surge a necessidade de capacitação continuada, até porque essas tecnologias evoluem diariamente.” (Vanzolini)
Assim, resta-nos cuidar da formação própria tendo em vista desenvolver um trabalho na escola que se utilize das tecnologias, bem como ajudar os alunos a também serem incluídos nessa realidade, fazendo bom uso dos laboratórios que algumas escolas possuem, melhorando os ambientes educativos e as metodologias de ensino e de aprendizagem.
sábado, 24 de maio de 2008
คriαηє♥αρrєηdiz dє ρσєтα
BRASIL
São 52 milhões e mais 300 mil
que para sobreviverem
têm bem menos que a metade
do mínimo por mês.
Mas quem leva mesmo a sério
o fato de tanta gente
carecer muito de tanto?
Tantos que moram em morros,
favelas, periferias,
em barracos ou cortiços...
Outros penam na Amazônia,
no cerrado ou caatinga
em condições desumanas.
Sabe lá o que é sofrer
tendo palma pra comer
onde sobra sequidão?
Sabe lá o que é ver
(chorando a fome dos filhos)
os filhos chorando a fome?
Fome...
No rosto,
as marcas da dor!
No peito,
desesperança!
São 52.000.000 e + 300.000
de pobres muito pobres
no Brasil.
Barro, Ceará
O casal Antônio Lucas Lúcio, 76 anos, e Maria Dolores de Oliveira, 75, ainda tem feijão para comer. Eles encarnam a própria história da seca. "A seca de 1932 foi ruim. A de 1970 também. Esta está parecendo com a de 1932", diz ele, que, junto com a mulher, planta, colhe e debulha feijão.
Tabira, Pernambuco
Maria do Carmo da Silva, 47 anos, mãe de cinco filhos, corta palma para comer. A sua receita: "Raspei os espinhos, passei em seis águas para tirar a baba verde e cozinhei com sal. Todo mundo fez cara feia, mas, pelo menos, ficou de barriga cheia".
Imagens/textos: vejabrasil.combr (Google/imagens)
quinta-feira, 22 de maio de 2008
Curso Educação Digital - Resenha Crítica
Produção de texto de acordo com gênero textual escolhido: Resenha crítica
RESENHA CRÍTICA DO FILME “DO SONHO AOS ARES”
por Ariane Sales – Pedagoga (Supervisora escolar)
e-mail: arianesales18@gmail.com
O vídeo tem início com uma pergunta: “Você conhece estes homens?” e, na seqüência, vemos a imagem de três homens mundialmente conhecidos: Leonardo Da Vinci, Thomas Edison e Albert Einstein, seguidas da frase: “Nós também fazemos parte deste time.” Imagina-se, então, que o filme tenha a ver com inteligência e, principalmente com invenção.
Com a informação sobre o Centenário do vôo 14 BIS tudo se encaixa: Santos Dumont, brasileiro que concebeu um dos grandes inventos da humanidade, fica ao lado de outros grandes inventores, europeus e estadunidenses.Mas a principal mensagem que fica é a certeza de que esses homens acalentaram sonhos (considerados, em sua época, impossíveis), mas além de sonhar, pensaram possibilidades de realização. Fizeram projetos, executaram, tentaram inúmeras vezes, fracassaram, “caíram” em plena tentativa, erraram, mas, sobretudo, acertaram, inventaram, fizeram acontecer. Isso porque ousaram sonhar, mudar a realidade, alterar a dinâmica de sua vida e localidade.
Título: Do Sonho aos Ares
Gênero: Documentário
Duração: 3’45 minutos
Ano: 2006
Trilha sonora: Meu País (Ivan Lins e Vitor Martins)
Coordenação e Roteiro: Major Jerônimo J. B. Vilela
Imagens gentilmente cedidas pelo Museu Aeroespacial
Produção: CaradeCão
คriαηє ♥
Ariane Sales
Pulsa a vida em todo canto.
Na aranha que o fio tece,
no bicho da seda,
no pescador que puxa a rede ―
instrumento de caça e morte.
No homem que pensa e, no entanto,
ao conhecer a realidade
continuamente aprisiona,
domina, mata, destrói...
Pulsa a vida no homem?
Vida que planta a morte?
A seu modo, a Terra reage:
dói a terra,
geme a água,
treme o verde,
cansa o ar.
― Verde, te quero verde!
Sol laranja, lua branca, céu azul...
― Cinza, não quero o cinza
da mente fria e do peito sem calor.
Quero vida, quero o som
do vento nas árvores,
do canto das aves,
do curso das águas...
Quero viver de amor
e amar com paixão o mundo
porque estar aqui
sem amor e canto
e dança e cor
é morrer um pouco
a cada dia de dor.