Arte

A arte não é um espelho para refletir o mundo, mas um martelo para forjá-lo.
Maiakóvski

sábado, 19 de julho de 2008

Poema

MULHER

Ariane Sales





Aprende as letras:
É pouco, mas aprende-as!
Te ensinaram
A não transgredir autoridade:
Pai, Marido, Deus.
Te orientaram
A não questionar ordens e convenções
do mundo inventado e comandado pelos homens.
Tu, mulher,
Aprende a ver o mundo!
Aprende a ler o mundo
e a viver nele!

É certo que foste domesticada:
obediência, silêncio, resignação.
Em diferentes tempos e lugares
És menor que os homens...
É certo que esperam de ti:
harmonia, bons costumes, submissão
Mesmo em lugares (neste tempo)
Onde o discurso da igualdade é intenso!

Vê a dor e o sofrer
E o medo e a prisão
Nos olhos da mulher!
Aprende o prazer
No amor, no estudo, no viver...
Aprende a alegria
No trabalho, no lazer...

Educa o homem e a mulher,
Crianças no teu colo.
Investe na criação da autêntica humanidade!
Conquista a tua liberdade
De expressão, pensamento, criação.
Constrói a tua autonomia!
Aprende a contraler!
Aprende por tua conta o saber!
Vai além dos termos que te impuseram
E escreve a tua própria sorte!
Imagem: Andre Wek

Poema

SENTIDOS

Ariane Sales



Um olhar, o coração aquece
Um roçar da pele, o corpo sonha
Uma palavra, a alma incendeia

Um roçar da pele incendeia
Uma palavra aquece
Um olhar sonha

O coração sonha
O corpo incendeia
A alma aquece

Tudo é pouco !?

Poema


TRANSMUTAÇÃO


Ariane Sales

Ciclo da vida:
Nascer
Desenvolver-se
Reproduzir-se
Morrer.

É isto a essência,
O que nos faz ser gente, bicho, planta?
O poeta tem razão:
O essencial é invisível aos olhos.

Nascer e morrer
são atos biológicos.
Reproduzir-se é processo
(instinto, desejo, conservação);
Desenvolver-se, também
(dinâmica, movimento, evolução).
Mudar-se e mudar a realidade:
Tudo cabe aqui.

Penso que somos sós...
Paradoxalmente, somos todos.
Há dias em que quero lagartear:
Comer-beber, transar, repousar.

Há tempos em que o corpo
pede isolamento:
urso em hibernação.
Ou pede sossego:
Tem carência de ruminar.

Penso que somos sós...
Essencialmente, somos todos.

Percebo a efemeridade da vida.
Teimo, então, pela continuidade.

Quero ter:
Do mar, o mistério;
Do céu, a amplitude;
Da terra, a firmeza.
A beleza frágil da borboleta;
A suavidade inquieta do beija-flor.

Quero plantar
Semente, palavra, ação:
Que fecunde, liberte, transforme.
Quero mudar-me continuamente.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Raul Seixas (1945-1989) - Cantor e compositor brasileiro

CONSERVE SEU MEDO

(Raul Seixas e Paulo Coelho)

Conserve seu medo
Mantenha ele aceso
Se você não teme
Se você não ama
Vai acabar cedo
Esteja atento
Ao rumo da História
Mantenha em segredo
Mas mantenha viva
Sua paranóia
Conserve seu medo
Mas sempre ficando
Sem medo de nada
Porque dessa vida
De qualquer maneira
Não se leva nada
E ande pra frente
Olhando pro lado
Se entregue a quem ama
Na rua ou na cama
Mas tenha cuidado
Conserve seu medo
Mas sempre ficando
Sem medo de nada
Porque dessa vida
De qualquer maneira
Não se leva nada
E ande pra frente
Olhando pro lado
Se entregue a quem ama
Na rua ou na cama
Mas tenha cuidado
Cuidado!
Ah! Ah! Muito!

terça-feira, 1 de julho de 2008

คriαηє ♥

POEMA DE AMOR CORTADO
(Heloísa a Pedro Abelardo)

Ariane Sales


Amado Pedro,

Muitos cantam a vida
Cantarei o amor
a ti
porque és único,
íntegro e belo:
o mais belo de todos.

Venerar-te,
constância de espírito:
cubro a cabeça
em Argentenil
somente por ti.

Mesmo tão longe,
perto te vejo
como se aqui estivesses.
E tenho saudades
do riso e das cálidas palavras.

E em sonho:
Mordo teus lábios
Beijo teus brancos dentes
Cubro de beijos teu corpo
E amo...

Solidão...
Desejo teu amor na hora do desejo
e choro...
Melancolia...
Ai! Quanto sofrimento
e dor na despedida
e agora!

Tesouro roubado:
Alegria, carícias...
teu corpo claro:
ombros, peito, pêlos...
E tuas mãos fortes e quentes!

Não quero esquecer:
À luz, tua memória;
À noite, um fantasma.

Não posso esquecer:
Nosso amor, seu fruto,
o enlace secreto,
a louca sangria...

Ah! Quanta insanidade
e horror perante os céus
e os homens!

Nada fizeram;
nada quiseram fazer:
a não ser consentir...

Perdi a esperança
nos céus
e nos homens.

Meu sacramento,
o amor por ti.
Em Paracleto,
zelo por ti.
(Perdoa-me não amá-Lo como tu.)

Minha adoração eterna.

Tua sempre,

Heloísa.

França, século XII.